sábado, 12 de abril de 2008

Um Coração com Defciência



Nos últimos tempos, conheci duas pessoas com deficiência. Não sei especificar de que deficiências se tratam, talvez um atraso no desenvolvimento cognitivo, mas isso não é importante.

O importante é que reparei que são pessoas livres na expressão dos seus sentimentos, que não se inibem de mostrar o seu afecto e o seu agrado. Um deles é um trabalhador das portagens da Ponte 25 de Abril. Sempre que passo pela sua cabine dá-me os Bons Dias com um sorriso luminoso, pergunta-me como estou e diz que teve prazer em ver-me e que já tinha saudades minhas. De início estranhei aquela atitude, pensei que fosse “gozo”. Agora percebo porquê. Por não estar habituada. Já ninguém tem este tipo de atitude, os sentimentos, essencialmente os de afecto, estão guardados e só raras vezes surgem. Então, não estamos habituados e quando eles surgem estranhamos. É uma avalanche perante a qual nós erguemos a nossa barreira de protecção e pensamos “É gozo!” ou “É atrasado”. Sim, porque as pessoas “normais” não se expressam assim. Existe um código de conduta que não as permite expressar as emoções, os sentimentos, os afectos, salvo em raras excepções. Já as sensações desagradáveis, a raiva, a inveja e o ciúme não hesitam em “descarregar”, especialmente naqueles que mais amam.
Bem, se isto é ser “normal”, então eu quero ser uma pessoa com deficiência, especialmente que seja com um coração deficiente.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Charme dos Humoristas

Não são loiros, nem têm olhos azuis. Não são, definitivamente, bonitos. São altos e demasiado magros ou baixos e mais para o gordos, usam óculos, têm algum grau de estrabismo, têm uma pele lastimável, a barba por fazer, um corpo nada definido e um péssimo gosto para vestir, geralmente desajeitados nos seus movimentos corporais e como tal são uns dançarins desastrosos. São assim os nossos humoristas. Mas, salvo raras excepções, são incrivelmente charmosos!!
Porquê? É a inteligência e o humor. Eles de facto funcionam.
Quando, nas entrevistas, se dão aquelas respostas insípidas de "o aspecto não tem muita importância, a inteligência e o sentido de humor são o mais importante", apesar de quem afirma isto não estar a ser sincero, a verdade é que funcionam. Porquê? Não sei.
Visualizem o Ricardo Araújo Pereira: demasiado alto, completamente desajeitado, sobrancelhas demasiado grossas, péssimo dançarino...e no entanto tem charme!! Porquê? Porque tem um piadão e é inteligente. Gostava de trazê-lo para casa e ....(não é nada disso que já estão a pensar)...sentá-lo no meu sofá e pô-lo a dizer piadas e saídas inteligentes em repeat.
Já um homem lindo, alto e espadaudo, bem vestido e perfumado que não compreenda o que eu digo, as minhas fantásticas piadas e que tenha a graça de uma beata num Domingo de Páscoa, não serve para nada. Absolutamente nada!! Excepto, é claro, para regalar as vistas e dar uns amassos.
Deêm-me antes um Nuno Markl, desde que não tenha que dançar com ele, um Zé Diogo Quintela, que até é do Sporting, um Bruno Nogueira, desde que ele não se desconjunte na minha sala porque os ossos dão-me arrepios ou até um Fernando Alvim, mas com uma peruca ou chapéu. Eles sim, fazem-me rir e têm charme.
Estes Incorrigíveis dão cabo de mim!!

domingo, 6 de abril de 2008

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Espírito Natalício


Nesta altura do ano os seres humanos que habitam nos países católicos adoptam um comportamento suigéneres visto de uma perspectiva relativizante.

Comecemos por abordar o sentido original da palavra Natal. Segundo os especialistas esta palavra significa nascimento, e é utilizada pelos católicos para se referirem ao nascimento do Messias, Jesus Cristo, em Belém no dia 25 de Dezembro de há 2007 anos atrás. Assim, por esta altura os devotos de Jesus Cristo celebram o seu nascimento seguindo algumas tradições postuladas pela Igreja Católica. Manda a tradição que esta seja uma época de generosidade, união e convívio entre os seres humanos. As famílias reúnem-se na noite de 24 de Dezembro para à meia-noite celebrarem o nascimento de Jesus Cristo. Seria um serão de reflexão, paz, amor e comunhão religiosa.

Tendo em conta esta descrição do Natal, posso afirmar com toda a certeza (pelo menos na minha opinião) que não é isto que se passa hoje em dia no mês de Dezembro nos ditos países católicos. É um fenómeno bastante diferente e até caricato. O que se observa são amálgamas de indivíduos a acorrerem às zonas e centros comerciais. Porquê? Bem o propósito é comprar presentes para os familiares e amigos simbolizando as oferendas feitas ao Menino Jesus, pelos três reis magos, num acto de amor. Esta corrida aos presentes de Natal começa nos fins de Outubro, início de Novembro, quando os estabelecimentos comerciais expõem os seus enfeites de Natal, lembrando solicitamente aos seus clientes que chegou a “tal” época do ano. Nesta altura, o cidadão comum começa a frequentar as zonas comerciais. E que fazem? Nada. Passeiam-se pelos centros comerciais para ver as decorações de Natal e para iniciarem a sua prospecção de mercado. Entram raras vezes nas lojas e os mais corajosos atrevem-se a ver os preços de alguns artigos, o que os leva a sair prontamente com um “Boa tarde, obrigado”.
Chegado o fim de Novembro, é a dolorosa altura de abrirem os cordões à bolsa e começarem de facto a comprar os ditos presentes. É então que começa o caos. Os acessos aos centros comerciais ficam completamente bloqueados. Cada indivíduo ao sair por volta das 19h do trabalho chega finalmente por volta das 22h ao centro comercial, depois de ter passado um total de 4 horas diárias em filas de trânsito e com a barriga vazia pois não teve tempo para jantar. A disposição para comprar presentes atinge o seu pico do ano….. o mais baixo, entenda-se. Resignados, lá começam a árdua tarefa de escolher os melhores presentes para os seus parentes. É neste trágico momento que se confrontam com a realidade de não terem dinheiro suficiente para comprar os presentes que gostariam de oferecer e mais ainda que a muitos parentes nem sabem o que oferecer, já que só os vêem em casamentos e baptizados, não sabem a sua idade, profissão, nem sequer o nome completo para escrever no cartão. Assim, acabam por comprar um tareco qualquer, sem utilidade nenhuma e que provavelmente vai directo para a arrecadação do seu destinatário onde ficará até ao próximo Natal, altura em que será oferecido a um outro parente. Este ciclo só termina quando o dito tareco estiver visivelmente velho e caduco, altura em que vai definitivamente para o lixo depois de ter passado anos em arrecadações húmidas e escuras. Mas foi barato, e isso é que interessa. Depois de passarem horas nas filas de trânsito e a percorrerem todas as lojas em busca do tareco mais piroso e barato do centro, dispõem-se heroicamente a esperar mais uma hora de pé na fila para os embrulhos. O seu dia termina por volta da uma da madrugada, esperando-os apenas 5 horas de sono até à manhã seguinte. É verdade que estes indivíduos empreendem um esforço físico nestes dias superior ao total do resto do ano inteiro. Bem vistas as coisas, a época de praia poderia ser imediatamente a seguir ao Natal, assim poupavam dinheiro em ginásios que só frequentam durante um mês. Mas infelizmente não é possível porque o tal Menino Jesus só nasceu em Dezembro.

Nas semanas que antecedem o Natal, começa então a fúria do açúcar. Sim, leram bem, sucedem-se as encomendas de filhozes, azevias, rabanadas, sonhos e outras iguarias que tais, bem carregadas de açúcar e gorduras. Começam também as compras das couves, batatas e o típico bacalhau, em quantidades que davam para matar a fome em África e que no dia 26 ou 27 vão directamente para o lixo.

Eis então que chega então a grande noite, 24 de Dezembro. Estranhamente o espírito natalício destes indivíduos está no seu pico….mais uma vez, o mais baixo do ano. É compreensível bolas! Vejamos: passaram o ultimo mês entre o trabalho, as filas e as lojas, estão mais tesos que um bacalhau seco, estão enjoados e sem apetite porque passaram os últimos dias a fazer ou a comprar doces e têm à sua frente uma mesa onde não cabe nem mais um palito. Acrescentando, estão sentados com 12 pessoas praticamente estranhas, numa mesa onde cabem seis, com o dito primo ou tio a repetir as mesma histórias de há 10 natais passados e com os filhos a perguntarem de 5 em 5 minutos quanto tempo falta para a meia noite. De facto não há paciência. Se o menino Jesus soubesse que a sua festa de anos era assim, recusaria o convite preferindo ficar na agradável companhia do burro e da vaca. Qual a solução que estes indivíduos encontram para este quadro deprimente? É óbvio: o vinho, e depois o moscatel, e também um whisky, ou dois ou três.

Chega então a tão esperada meia-noite. O avô, ou o tio, ou o primo vestem um fato de Pai Natal comprado na loja dos chineses e finge ser o mítico velhote para agradar as crianças da família, que já não acreditam no pai natal pelo menos há 2 anos. Além disso, devido aos copitos a mais a voz pastelosa e o andar cambaleante é indisfarçável. Rasgam-se os embrulhos, que tantas horas na fila custaram, e eis que….surgem os ditos tarecos. A sala ilumina-se com os inúmeros sorrisos amarelos e os forçados “obrigado, gostei muito” e assim passa a bebedeira. Só os risos das crianças, as únicas que gostam realmente dos presentes porque prevenidamente fizeram uma muito útil lista, animam o ambiente.

A noite de amor começa a chegar ao fim, as crianças começam a adormecer, os adultos começam a ficar com azia e ressaca devido aos comes e bebes e à visão de uma casa inteira para arrumar. Apressam-se nas arrumações, cada um leva a sua porção de lixo para a rua e dirigem-se para as suas casas onde os esperam umas santas e parcas horas de sono porque no dia seguinte a saga continua.

E é assim o Natal….

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Vou viver para um planeta chamado Dinheiro

Quando a terra secar e se abrir a meus pés,
Quando a minha consciência nascer e pesar
E só águas do parto existam para os bebés
E já nada haja que eu possa comprar
Vou viver para um planeta chamado dinheiro


Quando o meu nome deixar de soar
Quando a minha cadeira deixar de valer
E nada já possa ganhar
E nada já haja a morrer
Vou viver para um planeta chamado dinheiro

Quando só a humanidade tiver valor
Quando ninguém houver para corromper
E nada ultrapasse o amor
E nada compre o prazer
Vou viver para um planeta chamado dinheiro

Lá estarão os meus aliados
Lá vou voltar a ter o meu papel
E ninguém vai procurar culpados
E a boca não saberá a fel

Compaixão e Tolerância

Compaixão e Tolerância
Todos nós sabemos que o estado actual da nossa sociedade humana está bastante frágil (eufemísticamente falando). É do conhecimento geral que existem guerras, crimes e crianças a morrer de fome a cada minuto que passa. Todos o lamentamos. E todos, salvo raras excepções, nada fazemos. Todos poderíamos dar o nosso pequeno contributo para melhorar a situação de tantos os que sofrem por todo o mundo. No entanto, todos sofremos de duas síndromes crónicas que a Medicina Tradicional logra em curar: a inércia e a preguiça. Como sei, por experiência própria, que estas síndromes são muito complexas e difíceis de combater, vou começar por falar-vos de pequenos gestos.

Aproveito este momento no qual, com a aproximação da quadra natalícia, todos nós estamos mais predispostos a descentrarmo-nos dos nossos pequenos grandes umbigos para olharmos um pouco em volta. O que quero falar-vos são de pequenos gestos quotidianos que podem melhorar significativamente a qualidade de vida de todos nós. Não falo, entenda-se, da tradicional caridade que tanto se generaliza nesta época do ano, porque a caridade não significa uma real mudança de atitude e mais não é do que um olhar de cima para o outro. Para ajudarmos alguém temos que tentar colocar-nos na sua pele, ou seja, temos que estabelecer uma relação empática com ela. Ora, para estabelecer este tipo de relação não podemos lançar um olhar de cima, mas sim um olhar de frente, até porque não existem diferentes níveis de pessoas. E assim, chego ao ponto de que vos quero falar – a Compaixão.

Podemos não estar dispostos a enviar contributos para África ou a participar nas campanhas do Banco Alimentar, mas podemos actuar num raio mais curto e palpável, melhorando a vida daqueles que nos rodeiam directamente. Comecemos por um simples exemplo – o trânsito. A maioria de nós passa diariamente várias horas no trânsito, podemos aproveitar este tempo, que aparentemente é inútil, para espalhar a Tolerância e a Compaixão.
Se estamos numa fila de trânsito porque não deixar um outro automóvel entrar? Aquele automóvel que está a complicar o trânsito da fila do lado e que tal como nós tem dentro uma pessoa ensonada que só quer chegar a horas ao trabalho. Podemos até faze-lo esboçando um sorriso de bons dias. Não é este automóvel que nos vai fazer chegar mais atrasado, e atire a primeira pedra quem nunca entrou numa fila de trânsito a meio.

No nosso prédio, estamos a entrar no elevador e vemos um vizinho a abrir a porta de entrada. Porque não esperar e dar-lhe uma boleia em vez de entrar a correr fingindo que não o vimos?
Quando estacionamos o nosso automóvel, porque não aproximá-lo bem do carro da frente para que atrás sobre espaço suficiente para mais um estacionamento? Nenhum de nós gosta de ficar vários minutos às voltas à procura de lugar.

Todos nós sabemos que o ambiente vai de mal a pior. Que tal poupar água? Simples como fechar a água do duche enquanto nos ensaboamos, como fechar a torneira enquanto lavamos os dentes ou como não descarregar o autoclismo até ao fim sem necessidade. Mais ainda, que tal reciclar? Simples como ter um saco para o papel, um balde para o lixo comum, outro para os plásticos e mais um saco para os vidros. Tenho a certeza que se crianças de 5 anos conseguem para nós não será uma tarefa insuportável.
Simples como retribuir um Bom Dia, esboçar um sorriso e evitar discussões inúteis que só nos vão desgastar mais.
Simples como evitar o terrível vício que temos de falar mal dos outros só porque não nos ocorre mais nada e porque nos faz sentir ilusoriamente melhor.
Simples não é? Quando conseguirmos fazer estes pequenos gestos, talvez possamos dar passos maiores como ajudar as crianças africanas ou as espécies em vias de extinção. Até lá podemos começar a nossa luta diária contra a inércia e a preguiça, aproveitando para melhorar a nossa qualidade de vida e daqueles que nos rodeiam.

Bem Hajam